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Você conhece o seu poder de cocriar o futuro?

Talvez, esse seja o pensamento que mais me ajuda a enfrentar com certa leveza o ambiente VUCA – de volatilidade, incertezas, ambiguidade e complexidade – que nos cerca. Isso porque, quando tomamos consciência da nossa responsabilidade na criação do futuro, tanto nosso, como da sociedade e mercado, tiramos das costas um pouco do peso da sensação de descontrole total que, inevitavelmente, nos aflige enquanto percebemos a velocidade com que o mundo muda à nossa volta.

Não que esse raciocínio nos devolva algum controle, longe disso, mas, pelo menos, sabemos que não acontece tudo à nossa revelia. Além disso, não resta outra opção senão aceitar as coisas como são.

Isso minimiza que a ansiedade pelo descontrole e o medo de não estar por dentro (a famosa sensação FOMO – fear of missing out) nos paralise. Você não consegue saber tudo? Não, não consegue. A boa notícia é que ninguém consegue. Algumas pouquíssimas pessoas têm a habilidade de profetas, um ou outro Steve Jobs conseguirá prever com um certo grau de acerto. Raríssimos.

Lembro de vários momentos em que, para enfrentar cenários incertos, usei a pergunta retórica: “Mark Zuckerberg sabe isso?”. A resposta é NÃO, ele não sabe. Ele tem convicções e ideias sobre o futuro – como nós – e também tem ansiedade pela dúvida – como nós. Mas como ele resolve isso? Sabendo que é coautor do futuro. Então, ele vai lá,  a parcela dele.

Essa é a postura que escolhi também.

Não há como ter clareza do que será em 5 ou 10 anos. Essa é a nova realidade. E nesse mercado acelerado, fazer planos de longo prazo tende a ser um pouco esquizofrênico. Como você vai desenhar um futuro se sequer domina o contexto à sua volta? Por outro lado, isso não significa que planejamento e pensamento estratégico não façam mais sentido. Não dá para se atirar no escuro, seguir sem um certo grau de planejamento, mas temos que fazê-lo com menos certeza. Um planejamento que não seja engessado, que tenha margem para lidar com o desconhecido. Algo como planejar a vida em versão beta. Senão, você corre o risco de criar um planejamento que mais parece uma obra de ficção, sem valor algum.

Isso, sem dúvidas, é um desafio e tanto para as grandes companhias. Mas, como já dito aqui, um pedaço desse futuro será construído por aquelas que seguirem os caminhos da experimentação. De experimentar novas formas de operar, experimentar novas tecnologias, testar caminhos, sempre em busca do acerto e, principalmente, do aprendizado constante.

Como fomentar a cultura do aprendizado

Você já deve ter ouvido ou lido, que estamos em um tempo onde é necessário se reinventar. Aprender, desaprender e reaprender. Para além de uma buzzword, a reinvenção é básica. Se você acompanhar o mundo digital, daqui a cinco anos, você será um ou uma profissional totalmente diferente do que é hoje. Como se preparar? Para abrir espaço para o novo e fomentar a fome pelo aprendizado na minha vida profissional, na empresa, em artigos ou palestras, eu uso principalmente duas estratégias: a primeira é provocar a reflexão nas pessoas, e a segunda é ser o exemplo.

Sobre a primeira, tenho a dizer que, como líder, é preciso estar sempre puxando suas pessoas, incentivando-as, fazendo perguntas, chamando-as a discutir sobre os mais diversos temas. É necessário fazer pensar para instigar a curiosidade e é necessário plantar a dúvida para tirar as pessoas das suas zonas de conforto – usando uma expressão mais que batida, mas que cabe bem aqui.

E a segunda estratégia é fundamental: viver o que se fala. Já que eu acredito muito nessas coisas, eu sou o exemplo. É bastante claro que as pessoas seguem o que você faz e não o que você fala. Então, vista-se de aprendiz. E, aqui, é preciso uma boa dose de humildade. Reconhecer abertamente que não domino tudo, que não sei tudo e que sou um learner. Nesse mundo muito louco, se você tiver humildade e tranquilidade, você descobre coisas maravilhosas a cada minuto, e isso te coloca nesse looping de girar junto com ele. Leia, discuta com suas equipes, reflita, observe e vá construindo conhecimento com o que você vê de novo constantemente.

Não seja profeta do passado

Falando em aprender, volto, aqui, ao tema experimentar. Perguntam-me bastante se devem ou não embarcar nessa ou naquela onda do momento em relação às novas tecnologias. “Devo embarcar nesse hype?” Cara, não sei.  É muito raro saber hoje, de fato, o que vai vingar amanhã, ou que faz sentido, de alguma forma, para sua empresa?

Então, testa, experimenta.

Não seja uma dessas pessoas que chamamos de profetas do passado, gente que não embarca nenhuma nova tecnologia por desconfiança – ou covardia – e, depois, diz: eu não entrei porque sabia que ia dar errado. E não estou dizendo que você deve ficar pulando de hype em hype. Nem um extremo, nem outro.

A recomendação é a de que, se faz algum sentido para a sua operação, melhor fazer e participar. Mas mantenha sempre uma autocrítica alta, uma noção de que você está fazendo parte de um hype que pode não dar certo. Mas, mesmo se não der certo, ao longo do processo, você tirará um enorme aprendizado, e quem não experimenta não tem ganho algum!

Profetas do passado não tiram aprendizados, e isso não leva a empresa ou profissionais para a frente porque não construíram, não cocriaram nada nesse tempo.

Os aprendizados em um mundo que está mudando velozmente são o maior valor. Então, não é sobre se é hype ou não é hype, se entrei na coisa certa ou não. O que interessa é se o que você aprendeu te levou para uma nova fase.

Assuma o papel de cocriar um mundo melhor

Sou um otimista. Vejo que, como civilização, estamos indo para frente. Podemos ter fluxos que parecem que não, mas fazem parte dos ciclos naturais. Mas, obviamente, estamos indo mais rápido do que nunca e, para não enlouquecermos e/ou ficarmos para trás, seja como empresa, indivíduo e profissional, temos que colocar mais velocidade em nós mesmos. Não afobação, mas velocidade.

E devemos sempre reavaliar conceitos. Eu estou aprendendo um monte de coisas todos os dias, não apenas profissionalmente, sobre tecnologias, mas sobre cultura, pessoas, inclusão, diversidade. Não fico preso ao que minha geração aprendeu, vou para a frente com o mundo.

O grande convite que faço nesta pensata é: se você tem muitos temores, saiba que nós estamos construindo o mundo. Trabalhe contra os seus temores e a favor daquilo que você acredita. Aprenda sempre, reinvente-se e cocrie um mundo melhor. Aproveite o poder que a tecnologia nos dá para dar um salto positivo, para levar você, a sua companhia para um lugar mais bacana. Acho que isso é possível. É isso que me faz acordar todos os dias e me recarregar de energia para cocriar o meu pedacinho de mundo.

Por Bob Wollheim é Chief Strategy Officer da CI&T, multinacional brasileira especializada em transformação digital.

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